domingo, 4 de agosto de 2013

Vale e Brinde



Uma menina conversava com o seu avô
no banco de uma praça,
dessas pracinhas bem simples
 e com tantas histórias e estórias guardadas.
 Não sei se deveria ou se tinha esse direito,
 mas aquilo me prendeu de uma forma,
 aquilo me envolveu tanto,
que escutei e gravei, em minha mente,
 cada palavra daquele diálogo doloroso.


Ela perguntou por que amar doía tanto, mas ela perguntava isso com tanta intensidade, como se estivesse num abismo gritando em desespero, como se clamasse ao avô, com os seus olhos despetalados e coração despedaçado, que lhe arrancasse aquilo do peito. E o seu avô, apesar da voz rouca e falha, falava de forma suave – um contraste gritante naquele barulho interior da menina – e falava com a sabedoria que a vida lhe deu e que não se encontra nos livros, mas pode ser vista claramente em cada ruga no seu rosto.

Ele disse que o amor e a dor andam juntos, lado a lado, quem ganha um, leva o outro, como um brinde martírio.

É Como a formiga, que carrega uma folha pesada nas costas, quase se arrastando, para compartilhar com as outras formigas, e no final, come apenas um pedacinho daquela folha e, apesar da imensa fome, aquilo lhe alimenta bem mais.

Como a pérola que surge da ostra, beleza que nasce da dor, beleza que nasce por amor.

Como uma mãe dando à luz.

Como aquela folha que acabou de se jogar daquela árvore, para que outra possa nascer renovada em seu lugar.

Ele ia falando de dor e de amor com tanta simplicidade, de uma forma que nunca ouvi ninguém falar e a sua voz trazia paz, apesar do tormento intrínseco em cada uma de suas palavras. Não sei explicar o porquê, mas a sua voz trazia paz. Palavras com sangue, com uma voz de paz. Era isso.

E a menina  chorava, chorava muito, chorava tanto que chegava a soluçar, e ele a abraçava bem forte e dizia:

- Está vendo? As suas lágrimas são a dor, o meu abraço é o amor.

- Eles estão sempre juntos, minha neta. 


[Confesso que também chorei. Não sei se por dor ou por amor. Talvez os dois]




E num cantinho da praça um poeta declamava:

“O amor é o sol, a dor sua sombra
Assombra
O amor é o vale, a dor é o brinde
Vale um brinde ao amor!
Pois não amar também é dor”





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