quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Dias a mais por mais dias



Bateu na porta dele e pediu comida.
Levou porta na cara.
Estava em si trancafiado.
Era apenas um dia comum.

Bateu no vidro do carro dele e pediu moeda.
Vidros fechados.
Estava em si aprisionado.
Era apenas um dia comum.

Bateu no coração dele e pediu carinho.
Coração não amoleceu.
Estava empedrado.
Era apenas um dia comum.

Olhou nos olhos dele e pediu atenção.
Não enxergou.
Estava vendado.
Era apenas um dia comum.

Bateu na porta dele e pediu comida.
Saiu farto.
Estava solidário.
Bateu no vidro do carro dele e pediu moeda.
Vidros abertos.
Estava doado.
Bateu no coração dele e pediu carinho.
Coração escancarado.
Estava tocado.
Olhou nos olhos dele e pediu atenção.
Enxergou o que nunca tinha visto.
Estava sentindo o outro lado.
Era Natal.


[Enxergar a vida com outros olhos e com o coração aberto todos os dias é transformar dias comuns em dias a mais.]



Agradeço a todos os seguidores, a todos os amigos que transformaram os meus dias em dias a mais. Verdadeiros presentes! Feliz Natal e um novo ano repleto de dias a mais!




Selo que Ganhei da Gabriela e selo, selo e mais selo que ganhei do Saulo. Aqui. Obrigada pelo carinho, queridos!


segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Diálogo com o acaso ou Colocando o acaso em seu devido lugar




O acaso quis juntar o meu caminho ao dele,
mais uma vez, a qualquer custo.
Foi um caso sério!
Caso não saiba, senhor acaso,
com ele eu não caso.
E não faça pouco caso do meu sentimento.
Cada caso é um caso
e no meu caso, o que o senhor aprontou
foi um descaso,
interferir assim no destino dos outros...
Só um alerta:
Caso o senhor continue agindo assim,
poderá achar um caso que não casa com o meu,
se é que o senhor me entende
e eu não sei o que será de mim.
E por acaso o senhor sabe?
Não, senhor acaso, o senhor não sabe.
O senhor não tem bola de cristal
e nem é onisciente,
e muito menos onipotente,
apesar de se achar.
E nem venha batendo no peito
e gritando com a voz grossa:
“Mas eu sou onipresente”,
no seu caso, o nome disso é diferente,
i-n-t-r-o-m-e-t-i-m-e-n-t-o.
Isso mesmo, o senhor é um enxerido, senhor acaso
e este caso não é seu,
então, não brinque assim com a minha vida.
No meu caso, eu acho que o que o senhor gosta mesmo
é de jogar álcool no fogo
e ver se vai dar brasa ou se o vento
vai levar a fumaça para outros ares,
e caso isso aconteça,
o senhor ainda quer se justificar,
dizendo que o caso tinha que ser assim mesmo,
que eu tinha que passar por aquilo.
Me diz aí de uma vez por todas!
Qual é o seu caso comigo, senhor acaso?
Será que sou uma cobaia em suas mãos?
Ou sou um caso perdido pro senhor?
Deixe-me ver o ocaso tranquila, senhor acaso!
E decidir quem eu quero que contemple comigo
este momento e todos os outros.
Será que é pedir demais?
Por que o senhor adora meter o nariz
onde não é chamado?
Um dia ele pode acabar quebrado, cuidado!
Caso isso aconteça,
o senhor sentirá o peso das mãos
de um coração desafortunado.
Pare de me tirar de um caminho e levar para outro,
depois sair por aí dizendo
que era assim que tinha que ser,
que estava escrito.
Não sei se o senhor sabe,
mas eu também tenho caneta e adoro escrever.
Deixa-me rabiscar a minha vida, senhor acaso!
Traçar o caso sem fazer caso de nada
ou fazendo, sei lá...
Arrume um caso pro senhor,
se for o caso!
Ou então, faz assim, deixa fluir!
E caso o seu dedinho não resista
e queira interferir,
escolha o melhor pra mim!
Caso o senhor queira mesmo me ajudar,
terá que ser assim!
E fim.


[Mas pode conspirar a favor que eu deixo. Eu sei, eu sei... Mas caso a minha caneta falhe...]





Selo que ganhei da So Sad. Aqui. Obrigada pelo carinho!


“Tudo por acaso. Tudo por atraso. Mera distração..."

[Tudo por acaso – Lenine]


domingo, 5 de dezembro de 2010

Bem guardado



Retratos, cartas, sonhos,
bilhetes num papel de pão.
Estão lá, no fundo do baú,
revelando os meus segredos.

Olhos brilhantes, estrelas faiscantes
numa noite sem luar.
Estão lá, clareando o baú.

Poemas de infância com laços de cetim,
tímidos e tão puros, tão inocentes.
Brincam no fundo do baú,
fazem travessuras por lá.

Momentos que revelam poesias escondidas,
que passariam despercebidas,
mas que não passaram,
e que bom que eu pude ver!
Declamam no fundo do baú,
deixando tudo mais bonito e sensível por lá.

Amores, declarações, beijos ao pôr-do-sol,
canções ao pé do ouvido, sussurros.
Também estão lá,
suspirando num cantinho.

Ensinamentos de um velho sábio,
passados para uma sábia mulher,
passados para mim,
aprendizados de toda uma vida.
Estão lá, no fundo do baú,
como uma enciclopédia mágica.

Amizades, afetos, cuidados,
valores, amparos, abraços inteiros.
Estão todos lá, no fundo do baú,
com as mãos estendidas
e com os seus incríveis poderes.

Lágrimas derramadas,
de tristeza, de alegria,
de glória, de emoção,
todas as gotas.
Estão lá também,
bem ao lado dos sorrisos largos,
dos arrepios provocados
pela intensidade dos instantes.
Estão todos lá, no fundo do baú,
bem guardados,
bens tão bem guardados!

Não num baú jogado num canto e empoeirado,
sendo comido por traças,
mas num baú chamado lembrança
e as lembranças também nos movem.

[E passará. E ficará.]




Este alinhavo foi criado, ou melhor, o meu baú foi aberto, especialmente, para o Intermediário. Um projeto repleto de criatividade, que oferece vários pontos de vista, diversos olhares, múltiplas leituras, ou como a Carmen costuma dizer, muitas conVersas, sobre determinado tema. Um espaço com ampla dimensão e sem anteolhos, criado pelos meus queridos Marcio e Saulo.



“Vivo e mágico, com as coisas boas que tem lá...”

[Baú – Vanessa da Mata]


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