segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Com palavras, sem pena

Ela não olhou para trás.
Abriu as grades enferrujadas que mantinham presas
a prosa, o verso, a poesia e todas as palavras
que carregavam, despretensiosas, a sua salvação, a sua libertação,
a sua fuga da ausência de elementos dóceis e afáveis.

A falta de tais elementos num relacionamento pode causar efeitos colaterais que — se não tratados de forma sutil — podem ser irreversíveis ao coração. E as suas palavras seguiram, pelo corredor instalado em sua garganta, cabisbaixas e soltando pétalas encarnadas com cheiro de naftalina por todo o percurso. A pena daquelas suaves palavras era a morte, e a morte delas significava o seu padecer voluntário e, talvez, eterno. E então, depois de atravessarem o corredor inteiro, sentaram-se no chão e entreolharam-se, como se procurassem, umas nas outras, uma resposta, uma nova chance de sentirem o brilho que espalhavam pelos ares, o efeito mágico que provocavam nele. Não encontraram respostas. Fecharam os olhos com força, esperando pela hora fatídica, o momento em que seriam esmagadas na garganta para sempre e passariam a ter outra entonação, outra espessura. E, no último segundo, ela tomou um impulso, como se fosse um animal lutando pela sobrevivência e libertou as palavras que, até então, estavam condenadas. E elas saíram luminosas e dançavam como se fossem bailarinas sentindo a emoção de pisarem ao palco pela primeira vez — que é a mesma até a última — e davam piruetas... Nesse momento, pouco importava se seriam recebidas com o desdém causado pelo tempo — as palavras dele para ela nunca foram tratadas com desdém. Desde o primeiro até o último dia eram como aquelas bailarinas na estreia. E ela sempre colocava as palavras dele na moldura e depois ficava olhando admirada, desde sempre, o tempo não havia mudado isso —. Ela refletiu, enquanto as suas palavras seguiam para o sacrifício, que não poderia embrutecer-se por causa de um coração endurecido. O dela não era igual e nem deveria ser imitado para que ele sentisse na pele o que acontece quando as palavras da parte mais bonita são pronunciadas e são recebidas com um escudo; batem e caem machucadas. Não seria ela se agisse assim e as suas palavras não seriam aquelas, não teriam a sua essência. As palavras estavam, enfim, livres e a sua liberdade viria junto, por ela ter se resgatado. E o seu corredor da morte interior foi desativado por tempo indeterminado.

[Não, ela não olhou para trás. Olhou para dentro. E as suas palavras jamais padeceriam, mesmo que ela padecesse em lugar delas.]


Selo que ganhei da Joyce. Aqui. Obrigada pelo carinho, Joyce!


terça-feira, 24 de agosto de 2010

Sentir a vida

Passear pela vida, poder contemplar as paisagens que se formam e se transformam; o desabrochar das flores, a gota de orvalho que cristaliza antes de cair, a leveza do voo dos pássaros num céu pintado especialmente para a suave ocasião... Enxergar as coisas mais simples e tão cheias de leituras e de sentidos e de beleza. Deixar que elas invadam bem aqui, dentro de mim. Seguir a vida como quem dança, coreografando passos que me levem além, passos que me levem, passos leves e cheios de expressão e de força e de sensibilidade. Caminhar pela vida, passar por todos os seus cantos, ouvir o seu canto, sentir o seu canto penetrar em cada milímetro de mim. Olhar a vida nos olhos, com outros olhos. Sentir a vida.


[Porque viver não é apenas existir. Viver é sentir!]


sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Dos preparativos...


"Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde,
desde as três eu começarei a ser feliz.
Quanto mais a hora for chegando,
mais eu me sentirei feliz.
Às quatro horas, então, estarei inquieto e agitado:
descobrirei o preço da felicidade!
Mas se tu vens a qualquer momento,
nunca saberei a hora de preparar o coração..."
[do lindo, O Pequeno Príncipe - Saint-Exupéry]





Quando o amor chega
O coração sempre está preparado. Ou nunca
O coração nunca está preparado. Ou sempre
Talvez o coração até esteja preparado. De repente...
Ou ele finge estar preparado? Provavelmente...
Mesmo o coração preparado, se surpreende
O amor chega jogando o seu laço. Prende
Bate com força na porta. Insistente
Entra espalhando o seu brilho. Reluzente
Ocupa todos os espaços. Insolente
Domina o coração. E a mente
Se ele não veio, virá. Fique ciente!
Se ele já esteve, voltará. Reincidente
Às vezes, ele nunca sai. Permanente
Antes do amor chegar,
o coração parece pré parado. Poente
E depois, com ou sem preparos,
bate ainda mais forte. Ele sente
Ah, e como sente!
O amor é nascente!


[Se prepara!]



segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Outros sonhos

Sonho
No sonho eu tenho tempo
Tempo
Para a vida contemplar
Sonho
No sonho eu tenho asas
Asas
Que me levam para onde eu desejar
Sonho
E no sonho eu voo com as asas do tempo
E elas me guiam aos lugares mais bonitos
Onde os sonhos fazem o tempo parar
Onde o tempo para
Para ver o meu sonho realizar
Sonho que sonho...

[A partir daí, sonho e realidade se misturam. E voo mais alto quando vejo que sempre há tempo pra sonhar. Isso é real. Sempre há!]


Selo que ganhei da Joyce. Regras aqui. Obrigada, Joyce!


quarta-feira, 11 de agosto de 2010

(re)Bate, coração!


Às vezes, o meu coração parece querer sair do peito
de tão forte que ele bate, parece que me bate
e cada batida parece um grito, um clamor,
uma súplica, um pedido de socorro.

Eu até tento atendê-lo, mas ele mesmo esfria, volta ao compasso lento de antes, depois fica por aí torcendo o bico, fazendo cara feia pra mim. O problema é que o meu coração não bate pra quem eu quero, quer que eu bata pra quem ele quer. Ele é louco, sabe que as coisas não são bem assim. Eu até queria isso, mas quando forço pra ele bater, ele não aceita, quer que seja de verdade e tento explicá-lo que eu também quero que seja de verdade, mas algo aqui dentro se fecha, por mais que eu me abra. Aquele brilho nos olhos, tão característico, não acontece. Ele e eu sabemos que não é nada fácil fazer com que um coração que já teve a batida “quase” perfeita, bata da mesma forma por outra pessoa. É difícil, mas não impossível, apesar de às vezes parecer. Eu tento e ele me ajuda do jeito dele e eu também o ajudo, mas às vezes ele me castiga tanto, quer me culpar pelo seu vazio, ele me diz que o vazio não é nada dele, é meu e eu que tô passando pra ele, nunca assume nada.

Às vezes, o meu coração me sufoca, parece que quer sugar todo o meu ar, tomar impulso e sair correndo por aí, à procura de um coração que o faça bater fora do compasso outra vez, sentir aquela pulsação acelerada e tão gostosa, mas o máximo que ele consegue é uma espécie de ensaio, onde tudo vai muito bem e na hora do show, com tudo pronto, desce do palco e sai correndo feito um desvairado, dando as costas ao público. Ele sabe disso, depois fala de mim, depois quer me culpar.

As batidas do meu coração não me dão sossego, abalam tudo, parecem querer falar comigo e eu interpreto cada um dos seus sinais, já estou escolada nele. Ele me diz que está cheio, cheio de estar vazio e que o seu vazio pesa tanto! Ele pensa que não sei disso, eu que carrego o peso dele nas costas todos os dias, ou melhor, no peito. Aliás, nas costas, no peito, na mente, no corpo todo, o meu corpo inteirinho sente o peso dele. O peso do meu coração é o principal sinal, quanto mais eu sinto o seu peso é quando mais dolorido ele está. E ele bate e me bate e se bate...

Tadinho do meu coração! Tudo o que ele quer é que eu passe uma borracha mágica nele e escreva outra história mais leve e mais bonita pra nós dois. E ele é categórico e intransigente, me disse que isso não é um pedido e que eu trate de cumprir! Ainda colocou o dedo na minha cara. É mole?! Só porque ele sabe que manda no meu pedaço.

[Eis uma ordem que quero atender com todo o prazer! Quero tanto, coração!]



Selo que ganhei da Winny. Aqui.Obrigada, Winny querida!


domingo, 8 de agosto de 2010

Calmaria


Dei um tempo à calma
Usei todas as minhas armas
Joguei todas as minhas cartas
Esqueci até as minhas marcas
E em troca?
Farpas
Fiquei farta!
Resgatei a minha alma
E a vida bateu palmas
Ganhei a calma
Perdi a causa
E a calma ria!
A calma ia...
Há calmaria.
Acalma, fia!

[Quero a calma que o amor tira. A calma que o amor dá!]



Ganhei este selo da B. e este da Winny. Aqui. Obrigada pelo carinho!


quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Mar Amar

É preciso mergulhar de cabeça,
para ver a beleza que está no fundo do mar.
A superfície é bonita,
mas as coisas mais incríveis
acontecem lá no fundo.

É preciso mergulhar de cabeça, para ver a beleza das coisas do amar. A superfície não nos faz sentir o arrepio que o amor provoca, as transformações de que ele é capaz, o rebuliço que ele faz. O amor faz turbulência em nossas águas calmas. O amor tira a paz. Dá sossego. E nem adianta usar máscaras. O amor tira o fôlego, tira o chão. O amor afoga. O amor faz respiração boca a boca e nos perdemos lá dentro. E nos achamos. O amor transborda. E nem adianta as experiências anteriores com os mergulhos mais diversos. O amor fisga de novo. E é tudo novo. Tudo igual, tão diferente. Igualzinho ao mar, que sempre surpreende o pescador. O amor é traiçoeiro. Quando a gente menos espera, ele dá uma rasteira. Fica igual a um tubarão quando sente o cheiro da presa. O amor ronda. Faz ronda. O amor tira pedaços. Deixa pedaços. É mais forte do que nós. Não tem como fugir. O amor joga a isca, lança a rede, nada mais rápido do que a gente. Ele alcança. Ele não cansa. Não cansamos dele. E nem adianta tapar os ouvidos. O amor atrai. Tem canto de sereia. Faz sinais de fogo. Seduz. Assim como a música das ondas quando bate nas pedras. E nem adianta fechar os olhos. Ainda assim dá pra sentir o amor fazendo um balé dentro de nós. Como as águas embaladas pelos ventos. O amor é maremoto. É calmaria. O amor atira a gente lá no fundo. O amor mata. O amor joga o bote salva-vidas. O amor resgata. O amor salva.

[E nem adianta nadar pra bem longe... Navegar no amar é preciso. Impreciso. Inevitável.]

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